No ultimo dia 30/05, antes do show "Bellize convida Lebra", fiz uma entrevista exclusiva com o Lebra, uma das pessoas mais admiráveis e humildes que conheci.
Tremi ao ve-lo, mas aguentei firme e no decorrer da entrevista, percebi que ele estava timido também! Ele é um fofo e deixou saudades aqui em São Paulo! Ah, existem alguns links na entrevista que remetem ao que ele se refere
Por que Lebra?
É um apelido de infância que me deram e pegou rápido e ficou difícil de largar. Duas semanas depois que botaram o apelido não consegui mais deixar de usar. Fui obrigado a usar ele. Vem de Lebre, perna comprida. Eu corria pra caramba. Hoje não corro tanto mais. Hoje eu corro pouco [risos]
Bom, me fale um pouco sobre “Euforia”, seu primeiro trabalho solo. Como está sendo isso?
Então, eu tinha uma banda que o nome era Vettoratos e a gente tinha guardado umas dez musicas e a gente ia gravar um disco novo e daí deu um probleminha lá e a gente resolveu parar de tocar. O baixista resolveu casar e buscar outras coisas na vida e eu não pude deixar guardadas as musicas: peguei um violão e gravei tudo na viola mesmo, não tive problema.
E como e quando você começou a compor? Como foi esse processo?
Eu comecei a compor desde que comecei a tocar, com 13 anos. Com 14 anos eu já escrevi minha primeira música.É meio que uma necessidade de botar pra fora tudo que tu sente, tudo que tu vive. E graças a Deus, as pessoas gostam.
E quais são suas principais influencias?
Olha, eu gosto de tudo um pouco. Eu comecei ouvindo CTG (Musica Tradicionalista Gaucha). Eu já fui adepto a um estilo musical, mas tudo vem e vai, tu ouve muita coisa. Gosto de tudo um pouco: gosto de samba, de rock, musica tradicionalista gaucha eu gosto também... Hoje eu to ouvindo umas musiquinhas mais calmas porque eu to muito agitado. Então, estou ouvindo umas músicas mais de voz e violão mesmo, até pra pegar referencias, porque como eu só uso violão, estou entrando mais nesse universo pra poder aprender melhor como passar só como violão. Às vezes, tu pode conseguir muita coisa só com o violão e mais outros instrumentozinhos pequenininhos.
Qual a principal mensagem que quer passar com sua musica? Como você quer tocar as pessoas que ouvem suas musicas?
Olha, eu gosto de falar da vida. Não só de problemas, porque não é só de problemas que a vida é movida. A gente tem nosso dia a dia. Eu gosto de falar das coisas que e sinto, das coisas que eu vejo. Eu comecei falando mais desses problemas de relacionamento que a gente acaba tendo. Acho que quando a gente é jovem, o primeiro choque emocional que a gente tem é com a namorada: dá tudo errado e dá tudo certo, e vai e vem...Tu vai crescendo e vai te deparando com outros problemas e acho legal falar de tudo. Eu gosto muito de Cazuza, Barão Vermelho, do Raul Seixas... Gosto dos loucos![risos] Gosto da Marisa Monte também. Acho legal o jeito que eles cantam a vida.
Eu ia te perguntar quais são suas inspirações, mas acho que já é mais ou menos isso mesmo.
Falando da vida... Da tua vida. Eu acho que todo mundo é igual e, por todo mundo ser igual, todo mundo passa pelos mesmos problemas. E é isso que faz a pessoa se identificar. Dor é dor, sofrimento é sofrimento, alegria é alegria... Acho que todo mundo sente a mesma coisa. Quando alguém passa pela mesma situação que tu passou, se identifica e tu faz cantar junto contigo.
Você já esteve envolvido em outros projetos musicais. “Euforia” é a soma de toda essa experiência ou traz um Lebra novo, com uma proposta renovada?
Já estive envolvido em vários! O que mais gosto é cantar com todo mundo. Metade do trabalho é musicas novas que eu tinha guardado pra ser um outro EP da Vettoratos e metade é musicas que eu não cheguei a grava, Na verdade, cheguei a gravar mas não lancei com minha banda. Então, tem cinco musicas ali que é coisa antiga, que nunca consegui lançar direitinho pro pessoal.
Você acha que, no Brasil, já dá pra viver só de musica? Como você acha que está a cena independente atual?
Eu acho que é um trabalho muito complexo de executar de tornar a coisa viável, porque o que é tu vender tua musica? É tornar ela viável, mas tu tá trabalhando com sentimento, com essências, com coisas que te movem viver e é difícil tu tornar isso rentável, entendeu? De uma maneira que as pessoas a consumam. Acho que antes de tudo, antes de querer vender sua musica, tu tem que estar feliz fazendo ela, porque não adiante tu ficar afobadamente correndo atrás de um certo status ou um reconhecimento. Isso vem com calma, com muita calma. Fazendo devagarinho e com amor, tu consegue fazer com que as pessoas se identifiquem com aquilo e ai sim, elas vão comprar, de repente consumir sua musica.
Hoje em dia tem muitas bandas que conseguem se deslocar bem, vendendo camiseta, CD. Eu acho que as bandas que começam cedo, a primeira fonte de renda começa vir com essa parte do merchandising da banda. E na verdade, eh onde consigo tirar uns troquinhos pra eu poder fazer minhas coisas, comprar minhas cordas de violão e tudo mais. Mas, se um dia eu viver só de musica, vai ser uma consequência de toda a soma das coisas que eu faço. To feliz, por enquanto. Mas, eu acho que antes tu tem que estar feliz com o que tu gosta. Eu tenho meu emprego também e trabalho pra pagar o aluguel e é assim que a funciona, por enquanto.
Então você pretende um dia viver só de musica?
No momento que tiver pagando a comida, o lugar onde tu mora e tua roupa, não tem porque não. Pode até estar apertado. No momento que der pra se alimentar, andar pra lá e pra cá... nada mais que isso.
Agora umas perguntas mais pessoais: qual seu pior defeito?
Eu sou muito repetitivo e isso faz com que as pessoas, de repente, enjoem de estar ao meu lado no cotidiano. Eu repito muito as coisas. Então, eu resolvi até criar uma tática: antes de falar, eu pergunto: “já te falei isso, né? E se a pessoa responde que não, eu falo [risos]
E qual sua melhor qualidade?
Todo mundo reflete qualidades. Tudo que tu vai almejar pra ti e tu conquista, acho que isso tudo reflete. Todo mundo tem qualidades, não existe alguém que tenha uma melhor que a outra. A minha eu não sei se existe. Acredito que, de repente, qualidade eu possa até misturar com mania. Eu gosto das coisas organizadas, mas sou muito bagunceiro [risos]. Eu gosto de estar sempre pulando, isso é legal. Sempre alegre. Não gosto de ver ninguém triste. Eu já estive ai por bastante tempo com uns problemas... Família e coisa e tal... Vejo minha família brigando as vezes por causa de dinheiro e eu fico muito triste. Prefiro não pensar nisso.
Uma frase:
Bah!...Várias! “Vá ser feliz!”
Um dia perfeito:
É aquele dia que tu levanta de manhã, o sol ta brilhando e vem aquela vontade do nada de tu ir pra casa caminhar, passear, encontrar com os amigos, tocar violão, beber...
Um filme:
Em português, o nome do filme é “O mesmo amor, a mesma chuva”. Em espanhol “El Mismo Amor, la Misma Lluvia”... Ele conta a historia de um poeta argentino e é super honesta a historia dele, o modo como ele encara a vida, o jeito que ele erra... Acho legal o jeito como ele aprende as coisas, junto com o amor da sua vida. É muito bonito. Dentre uma lista de milhares que eu adoro, esse é o que eu vejo, vejo e não enjoo. Filme bonito.
Um sonho:
Um sonho é o agora... É o que eu estou vivendo...
Um livro:
Bah, não leio quase nada [risos]. Olha, gosto muito de ler poesia. To sempre lendo uma coisa aqui, outra ali... Até vim agora e comprei uns livros na livraria com os guris na Teodoro Sampaio. Gosto de uns livros que vão acrescentar alguma coisa na minha vida. Gosto muito do Mario Quintana, Neruda... Ele é super apaixonado, mas eu o leio pouco. Gosto bastante de ler biografias de artistas que admiro. Gosto de saber como é a historia de vida deles, como eles nasceram, o que eles passaram... Cada vez que leio, vejo que todo mundo é igual, todo mundo passa por problemas e ninguém é melhor que ninguém.
Uma musica:
Posso dizer uma brasileira e uma estrangeira? Porque acho que a gente ouve musicas em Inglês , mas ela não bate na cabeça como em português. Bom, milhares de músicas em português eu adoro. Prefiro falar das que estou ouvindo no momento: gosto muito do Barão Vermelho... Tem essas gauchas que eu gosto também... Bom, eu gosto muito de TNT, uma banda gaucha... Gosto muito da “ A irmã do Doctor Robert”, é uma musica muito legal, gosto também de Los Hermanos, ouço bastante...Gosto de Marisa Monte ... Nos últimos tempos, tenho ouvido mais musicas brasileiras, tipo Rita Lee... Adoro ela. Na real, tu pode botar a musica “Dance para não dançar”. Essa musica é a que mais ta me dizendo coisas nesse momento da minha vida: tem que dançar se ficar esperando a vida passar, tu dançar.
Não vive sem:
Musica! Eu durmo ouvindo musica! Passo o dia inteiro no trabalho ouvindo musica. Graças a Deus, no meu emprego, o pessoal, muito legal, me deixa ouvir musica. Se perguntar pro Gu e pro Pedro, eu dormi ouvindo musica. Ela é e trilha sonora da vida. Também gosto do som da natureza... O som da cidade às vezes tem uma poesia, sabe? É meio melancólico, mas não deixa de ser bonito.
O que esta achando de São Paulo?
Bah, to adorando São Paulo, serio! Eu tinha vindo duas vezes, apenas pra ver shows do Oasis e do Radiohead. Mas é aquela coisa: tu vem de ônibus ou de avião, desce, vai pro show, sai do show... Tu não te tempo de passear. Os guris foram muito queridos, eles têm uma organização incrível! Acho que isso que vai fazer com que eles durarem muito tempo na musica, porque eles são muito organizados, eles têm caixinhas para guardar as coisas, me mandaram um roteiro com todas as coisas que eu tinha que fazer, sabe? São incrivelmente organizados e eu acho que é isso que faz a coisa, sabe. Mas, falando de São Paulo, a gente tem uma imagem deturpada que a TV passa. Todo lugar tem sua beleza e caminhando pelas ruas, tu não vê diferença das ruas de São Paulo rãs ruas de Porto Alegre. No grande centro é tudo só em uma escala maior: os lugares são maiores, tem mais gente, as avenidas são mais largas... É tudo grande, é o expoente da coisa, apenas. Mas, o centrinho, adorei la! A Praça da Se, tava la e vi um tiozinho sambando com a tia, adorei aquilo... Bah, maravilhoso! Fui na Galeria do Rock, comprei umas coisinhas, uns CDs la, lugar maravilhoso! Tem tudo la, tudo! Gostei também de andar de metro aqui, tem vários tipos de metros... La em Porto Alegre, o metro é uma linha reta, aqui tem o metro vai pra um lado e pro outro, uma loucura! A parte da Guarapiranga, eu adorei porque é mais calmo. Eu to procurando ficar mais calmo comigo mesmo, então la em Porto Alegre, eu costumo andar mais em parques... Conheci a Augusta, gostei muito. É bem como eu falei: um expoente de tudo e se as pessoas vissem menos TV, elas iam descobrir isso [risos]
E a ultima pergunta: o que espera do show de hoje?
Olha, os guris estavam me falando de uma galera que ta vindo da Zona Norte, da Zona Leste... Eu fico muito feliz, não sei nem como agradecer esse carinho que as pessoas têm de vir de longe. Só de andar um dia em São Paulo, eu vi que o deslocamento pra ir pra qualquer canto é difícil, mas é porque é tudo grande. E é cansativo tu viajar de ônibus: às vezes o ônibus ta lotado, o metro ta lotado... Então, não tenho como explicar, to muito feliz! Os guris estavam falando que vai ser um show muito bacana. Eles já estão acostumados, já tocaram aqui. Achei o teatro lindo e to muito me sentindo muito bem aqui, to me sentindo em casa. Mais uma semana e eu to até com o sotaque trocado. [risos]
